Solidão Acompanhada
Quando nossa dor não é ouvida sentimos vontade de fugir para um lugar seguro, mas nem sempre temos disponível essa alternativa e é ai onde muitos anestesiam suas dores em coisas que a priori trarão uma falsa sensação de liberdade, porém logo acarretarão em ainda mais questões para serem resolvidas.
Seria muito bom ter alguém para chamar, uma pessoa que acudisse nosso sofrimento, porém nesses momentos sentimos que os outros estão ocupados demais, uns até notam, mas é muito raro alguém mensurar e estender a mão livre de interesse ou de apenas curiosidade.
Sem esperança, perdidos e desanimados, o sentimento de vazio toma conta, o espelho torna-se nosso inimigo, pois encará-lo seria o mesmo que admitir o fracasso, deixamos assim de cuidar de nossa casa principal e passamos a colecionar o que possa esconder nossa dor, mas ela está bem ali o tempo inteiro.
Às vezes dividimos apenas o espaço físico com nossos familiares, vemos estes se preocuparem com alguém famoso na TV que sofreu algo, ou com um parente distante, com a filha da amiga da vizinha e a gente ali do lado gritando por socorro, invisíveis.
Quantas vezes você já pensou em abrir a porta e seguir sem olhar para trás, mas se culpou por esse pensamento achando que deve algo, justamente, para essas pessoas e ou mesmo por amá-las. A certeza é que o tempo está passando e é preciso tomar a maior de todas as decisões: amar-se tão profundamente para fazer escolhas que acolham SEU SER por inteiro.
Em desespero não enxergamos que a falta de disponibilidade de algumas pessoas é por muitas vezes estas estarem carregando sua própria cruz, seus próprios medos, inseguranças e questões. Aprendemos também ao nos amarmos a compreender que o outro não tem obrigação, porém a reciprocidade como presente a nossa dignidade será sempre o elo de conexão ou o muro saudável de distanciamento.
Quando nos escolhemos o julgamento entra pela porta como uma onda em maré alta, por isso nossa coragem precisa estar bem ancorada e conscientes do que queremos estamos prontos para dar os próximos passos. Experimentar a liberdade de não precisar mais dividir a casa com conhecidos tão distantes de nossos valores talvez seja o momento que mais nos sentiremos acompanhados. Família é quem é porto seguro, o farol que ilumina nosso pensamento mesmo longe, são aqueles que colaboram, nutrem, regam e adubam nossos dias comuns com amor, respeito, alegria e valor.